Ser ou não ser ético: eis a opção
Em Portugal, até à criação da Ordem dos Psicólogos Portugueses, as questões éticas e deontológicas ligadas à prática da avaliação psicológica eram função, essencialmente, da consciência dos profissionais que a realizavam.
Esta realidade permitiu que profissionais das mais diversas áreas do saber realizassem avaliações psicológicas sem que ninguém questionasse se a sua formação os habilitava, efetivamente, a emitirem pareceres e a fazerem diagnósticos neste domínio.
Por exemplo, não era assim tão pouco frequente serem os professores de educação especial a avaliarem alunos ou serem os enfermeiros a avaliarem doentes, em ambos os casos, utilizando instrumentos que, por princípio e de acordo com as normas éticas e deontológicas que regulam esta prática, apenas deveriam estar acessíveis a psicólogos.
Da mesma forma, a inexistência de legislação que regulamentasse a prática da avaliação psicológica levou a que proliferassem versões “caseiras” de instrumentos cuja fiabilidade e validade não eram testadas.
A publicação do Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses veio dissipar quaisquer ambiguidades acerca de quem está habilitado a fazer avaliação psicológica, como deve proceder, que critérios norteiam a escolha dos instrumentos de avaliação e que aspetos a ter em consideração no feedback ao sujeito avaliado.
Passados quase 4 anos da entrada em vigor do Código, é visível a crescente sensibilidade a estas questões, quer da parte dos profissionais, quer das entidades que, direta ou indiretamente, estão ligados à avaliação psicológica.
Não obstante este maior nível de informação, persistem as práticas que pouco seguem as orientações que regulam a profissão traduzidas, entre outras, por exemplo:
- Na utilização de traduções de instrumentos cuja fiabilidade não foi testada;
- Na utilização inapropriada de materiais fotocopiados ou de reproduções ilegais destes materiais;
- Na violação do princípio da integridade traduzida no treino de pessoas nos instrumentos de avaliação, de modo a beneficiá-las.
Apesar de já não existir qualquer tipo de ambiguidade relativa a questões éticas e deontológicas ou a questões relacionadas com os direitos de autor, infelizmente, a lentidão da aplicação da justiça e o clima de impunidade em que vivemos leva a que, atualmente, o exercício ético da profissão de psicólogo continue a ser uma questão de opção pessoal.
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