Estimação da Inteligência Pré-Mórbida – O que é e para que serve!



A melhor maneira de cabalmente abarcar o conceito e utilidade de uma medida de Inteligência Pré-Mórbida (IPM) será através de um caso prático. Vejamos os seguintes casos reais:

Sujeitos (casos 1 e 2) admitidos num Hospital Geral devido a Traumatismo Crâneo-Encefálico. Após recuperação física da lesão, realizam provas de avaliação Neuropsicológica para avaliar a possibilidade de lesões cognitivas. Idade, género e escolaridade (9 anos) semelhantes.


Dadas as informações anteriores, podemos dizer que existe Declínio Cognitivo resultante da lesão?

  • Em qual dos casos?
  • É possível quantificar esse declínio?
  • Proposta de Reabilitação Cognitiva? Em qual dos casos?
  • Quando sabemos que é suficiente essa reabilitação? Quando parar?

As provas de screening neuropsicológico (MMSE e MoCA) são considerados normais… WAIS-III dentro do espectro considerado normal… mas sabemos realmente quais as capacidades cognitivas que os sujeitos tinham antes da lesão? NÃO!

A existência de alguma fonte de informação relativa ao funcionamento anterior do sujeito torna-se essencial para estabelecer a existência, o grau e o curso de um possível declínio cognitivo, transformando-se na base sobre a qual se vai comparar o funcionamento cognitivo atual. Esta comparação entre nível prévio e nível actual de capacidade cognitiva é o que chamamos de IPM.

Infelizmente, são raros os indivíduos que, em fase de pré-lesão, possuem uma medida de capacidade cognitiva que permita uma avaliação direta com a capacidade cognitiva atual. Assim, surgiu a necessidade de desenvolver instrumentos que estimem essa mesma capacidade cognitiva pré-lesão (ou IPM).


O TeLPI veio colmatar este hiato na avaliação neuropsicológica em Portugal. A par com outros países internacionalmente, a avaliação neuropsicológica do declínio cognitivo, só pode ser considerada completa e fidedigna se, uma medida de IPM for fidedignamente encontrada. Este pressuposto não só é válido para a prática clínica mas também na avaliação neuropsicológica em investigação. Senão, voltemos ao nosso caso real inicial:



Resultados da avaliação da IPM



Como podemos verificar, a transformação dos resultados do TeLPI numa medida diretamente comparável com QIEC da WAIS-III permite identificar um diferencial de capacidade cognitiva de 30 pontos, orientando o clínico para um diagnóstico de possível declínio cognitivo e consequente necessidade de reabilitação neuropsicológica. Este foi um resultado totalmente inesperado pois todas as provas apontavam para a inexistências de sequelas cognitivas decorrentes do traumatismo que o paciente sofreu. O paciente foi orientado para reabilitação cognitiva. Um ano após a avaliação inicial, foi novamente avaliado tendo obtido na WAIS-III uma pontuação de 120. Dada a recuperação cognitiva, obteve alta médica.

Este é um resultado que deve alertar também os investigadores em Portugal pois os instrumentos de rastreio cognitivo comummente utilizados para a classificação de um determinado individuo em grupos de controlo ou clínicos falham em identificar se o sujeito em causa perdeu capacidade cognitiva ao longo da vida pois, poderá apresentar um protocolo “normal” como no caso 2 e na realidade possuir um declínio cognitivo, enviesando resultados e comprometendo estudos. Na realidade este é o fator primordial da utilização criteriosa de instrumentos congéneres ao TeLPI nos protocolos de investigação em todo o mundo.

De referir ainda que o TeLPI foi normalizado para a população portuguesa e, embora uma comparação individual seja sempre preferível, quando não é possível a aplicação da WAIS-III, é possível efetuar uma comparação normativa tendo em conta a escolaridade do sujeito, facilitando a prática clínica e de investigação em termos de tempo.

Artigo redigido por Lara Alves.

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